domingo, dezembro 06, 2009

[E]vidência

(91 cm x 47 cm)

Olho para a maçã como ela, em tom de desafio, olha para mim. Há um envolvimento mútuo, apenas perturbado pela ondulação de um véu que, por vezes, teima em ocultar o fruto. Sinto-me observado por um olhar que me asfixia... As muletas sustentam a visão falsamente sibilina dos que condenam, criticam, apoiam, animam…
Pressinto uma liberdade… intuo uma leveza que transporta o meu ser… sou como a gaivota que luta quando o vento joga com o mar. Esperei pelo momento em que o manto se abriu. Alcancei a maçã que embora aqui tão perto, parecia tão longe. Sinto a brisa de ar fresco que mantém o véu a flutuar. O relógio está distraído. Aproveito o momento: enquanto a cortina está aberta, quero saborear a maçã.

terça-feira, novembro 10, 2009

O Ovo da Maçã 21:11

( 50cm x 40cm )

Momentos houve em que cheguei a sentir os dedos fortes do ar a apertar a minha ventilação. Sentia-me inerte. Hirto. Contrariando o destino, os alicerces das minhas veias conseguiram suportar esse estrangular.
Pouco a pouco, muito lentamente, foram-se soltando os dedos que me sufocavam. Abri a porta ao momento. Senti o calor que me invadia de novo e fazia o meu sangue ranger e correr nas minhas
veias.
Acordei. Olhei para o calendário. Eram 21:11. Com o corpo entorpecido, percorria-me uma sensação extasiada de ter voltado a sair do ventre da mulher que me pariu.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Orgasmo de uma jovem maçã virgem

( 90cm x 60cm )

Como marés rígidas e desavergonhadas,
Na cadência compassada da ondulação,
Dois corpos entrelaçados conspiram,
Na desordem de uns lençóis.
Atraída pelo calor emanado,
A jovem maçã virgem estremece.
Sente a lambidela de um pincel
Arrepia-se
Entrega-se
Dá-se ao inesperado reflexo
Altamente carregado de sensualidade.
Sente cravar na pele a boca
Sente no seu interior o fogo.
Vibra.
A um ritmo alucinante
As sensações vão sucedendo
Aumentando…
Aumentando…
E quando já nada parecia abrandar
Palpita uma explosão
Jorra um leito de sémen
Extenuados, os dois corpos deixam de conspirar.
Flutuam, agora, na mansidão pudica de um mar.

segunda-feira, outubro 12, 2009

IN COSTRUZIONE

( 120cm x 100cm )
Começamos por fazer uns traços, talvez uns simples riscos, que vão ganhando forma.
Uma manta em tom de azul claro ia-nos envolvendo, enquanto nos acomodávamos nas nuvens como almofadas macias se tratasse.
Toda esta composição era alimentada por palavras invisíveis, mas intuídas...
Por detrás da janela, sou como um pequeno cesto com furos, esvaziado de perfume, já que a distância me impede de tocar-te.
E sobre o tabuleiro joga-se o cavalete. Como um vulcão salto de quadrado em quadrado tentando encontrar o meu traço. Esporadicamente, por cada posição alcançada, fico deslumbrado. E continuo a avançar, sobrevoando as fendas que, como armadilhas, me tentam deter.
Porém, eu persisto no meu objectivo…quero penetrar no teu campo… quero sentir o aroma da maçã!!!

terça-feira, setembro 22, 2009

DÁDIVA LIBIDINOSA

( 120cm x 100cm )


Há algo mais no universo para além da carícia de um lençol azul... No tremor da seda, o abraço de umas mãos envolvem uma maçã recheada de desejo, na ânsia de ser lambida pela paixão... E, etapa a etapa, as correntes do tempo abrem as jaulas e, como uma ejaculação, solta-se o inesperado... Reflexos altamente carregados de sensualidade voam como peixes de olhos de pássaro.É domingo. A tinta está a esgotar-se. Sem se apagar, uma lanterna em chama na minha caixa de cores, ilumina-me. Solto um grito na imensidão do pensamento... Louvo o infinito, o meu bom sonho, a minha almofada macia…

E eis que surge na tela um leito libidinosamente perfumado pela dádiva de uma maçã.

segunda-feira, agosto 10, 2009

LUDUS SCAENICI

(120cm x 100cm)

Largando um rasto branco, os dias passam por mim a toda velocidade. A cada dia que cessa, o tempo endurece o seu porte atlético, e eu permaneço mais tempo estático na minha insónia. Bebo a agonia do cansaço. O tabuleiro da vida flutua. Os pássaros incolores cantam a dor e gritam palavras de socorro; os submarinos, que passam por baixo do assento, navegam em terra; os aviões não conseguem voar… A energia está a esgotar-se. Os meus cabelos despenteados estão brancos. O que se passa com as minhas veias? Sofro de uma doença doente…As cortinas estão prestes a fechar. Sou um toxicodependente! Estou viciado em sniffar a vida. As raízes continuam a crescer e a prender-me a este palco. Os peixes observam-me no céu. A maçã está mesmo no termo, mas ainda podem chover balões de imaginação. E eu vou ouvindo as palavras dos portões…

"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios... Por isso, cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento de sua vida, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos..." Charlie Chaplin

quinta-feira, junho 18, 2009

PRELÚDIO DE UMA PALETA

( 80cm x 60cm )
Passo a vida a pintar os meus sonhos.
Da paleta escorregam uma mescla e mistura incomuns de cores irreais.
O pincel escuta-me e conduz as minhas mãos... Entregam-se ao som e deixam-se levar...
Calados, perplexos, como que hipnotizados, os meus olhos observam a dança... Será amor, ódio, raiva, alegria, tristeza, medo? Serão homens, mulheres, crianças, astros, animais, cidades, natureza, vento, mar, sonhos?
O tabuleiro da existência persegue-me… Pergunto-me: perseguimos ou somos perseguidos? Estou preso numa overdose do xadrez da vida enquanto as minhas veias saboreiam avidamente o sangue da maçã.
Só sei que sinto nos meus dedos a relação da paleta com o pincel e que o aroma das tintas adormece a minha essência.

sexta-feira, maio 22, 2009

PARASSONIA DO SONHO

( 120cm x 100cm )

No mutismo da noite, aguardo um sonho inquieto, sísmico, impregnado de avidez das paixões. Entrego-me à imagem... A paleta vomita lama de tinta; o pincel está embriagado. Para lá dos devaneios soltam-se os pasmos do cavalo do xadrez da vida, contemplando o meu sonho em estado de sonambulismo. Enquanto isso, o fio da vida suporta a maçã, exausta com a geometria do orgasmo...

sexta-feira, maio 15, 2009

ANELÍDEOS ACÉFALOS

( 80cm x 60cm )

Continuo irracional, ébrio, em cada criação, com as bandeiras da minha loucura bem alto, enquanto os parasitas se estendem pelo xadrez da vida, adormecendo à sombra da maçã.
Censuram os ingénuos rebentos da terra, arrastam carências de valores que alimentam o espírito, camuflam-se em falsas aparências, como embalagens com rótulos publicitários inúteis... Os parasitas hipotecam o bilhete de estadia e perdem-se num longo tempo sem retorno...
Mas continuam a acreditar que estão vivos. Acreditam tanto que vivem uma vida que não existe...

quinta-feira, abril 23, 2009

NÁUFRAGO DA UTOPIA

( 120cm x 80cm )

Os anos vão cessando. O meu barco de sonhos vai envelhecendo e enferrujando; começa a ser ingerido pelo tempo... O Sol vai calcinando as letras do meu pergaminho familiar ficando invisível...
A um recanto depara-se o peão do xadrez da vida e o enigma de um diário que, em harmonia, bebem toda a beleza de uma maçã...
O meu barco da utopia naufragou. Suspendo a respiração. O tempo estacou.
Ainda que me torne oculto na minha solidão, não consigo encontrar-me. A irracionalidade persegue-me numa precisão de loucura...
E só, com o corpo sofrido, as veias destemperadas e os olhos de Sal, a minha visão não alcança nada, apenas as minhas pegadas na areia… talvez só o Mar nos seus circuitos das ondas...
Para finalizar exponho as palavras do Grande Al Berto...
Que horas serão dentro do meu corpo?
Que mineral vermelho jorraria se golpeasse uma veia... não sei... não sei...
O que vejo já não se pode cantar...

segunda-feira, março 09, 2009

FRAGMENTOS

( 120cm x 90cm )

Algures, num tempo... Num espaço imaginário, num pedaço do nada, num tempo perdido... Espero-te no vai e vem das vidas. Na tela solta-me a alma, uma ponte desfaz-se no infinito, num mar suspenso no céu, com os seus peixes que nadam em regozijo e liberdade. Meu Barco dos sonhos encontra se num manto de areia, estando a ser puxado pelo cavalo do xadrez da vida. Enquanto eu corro para casa de banho, onde tudo o que é vómito abandona a minha mente... Afinal o que sonhamos é o que verdadeiramente nós somos... Eu vou estar contigo algures, num tempo...

quinta-feira, janeiro 29, 2009

CONTEMPORANEAMENTE EM ESTADO ALIENADO

( 100cm x 80cm )
Eu não sou nada! Sou aquele que oscila de um canto para outro que não está lá, nem cá, dependendo do que sou, posso deslocar me para cá e para lá...
Viajo de carro dentro de mim deixando me embalar pelo sentimento e entro numa outra dimensão, o tempo deixou de ter balança de precisão não sei contar as horas, os minutos, os segundos.
Eu apenas sou um simples transportador de um corpo com seres vivos no seu interior, que sentenciam se querem que eu continue a ser o suporte.....
Eu perdi o meu próprio espelho, agora não sei se sou esta maçã suspensa que não encontra poiso, se sou esta cadeira solitária...
Apenas sei que sou observado por detrás das nuvens... Suja me a minha alma com um tubo de tinta para eu saber que tenho alma...