domingo, outubro 30, 2011

3º Toque

(80cm x 60 cm)

A ocasião assim o exigia. Mirando de alto a baixo, o espelho reflete uma paleta engalanada. Perscruta-se minuciosamente: os pigmentos estão secos, nó windsor na gravata... Um nervoso miudinho percorre-a. Aguarda uma chamada que abrirá o portão das jornadas a percorrer. Sabe que é um passo para o desconhecido. Ignora para onde a leva – talvez do nada para lugar algum. A luz azul que envolve o seu corpo é um enigma que sufoca. Olha para o telefone que continua mudo. Sente o sonho no leve esvoaçar das maçãs. Os pincéis germinam em solo fértil. Estremece... o telefone toca três vezes. Está na hora!!!

segunda-feira, agosto 22, 2011

[Polis]semia



De volta à Polis. À invicta. A Maçã convida para uma orgia de tintas e palavras. Observo. Sou um espectador. Da paleta escorregam cores irreais. O pincel conduz as minhas mãos que se entregam à tela. Calados, perplexos, hipnotizados, os meus olhos dançam acompanhando o ritmo atordoante. Será amor, ódio, raiva, alegria, tristeza, medo? Serão homens, mulheres crianças, astros, animais, cidades, natureza, vento, mar, sonhos? ...
Será real ou surreal? Mas, afinal, o que é real? E o surreal?

quarta-feira, julho 06, 2011

À Bolina (sur)Real

terça-feira, maio 24, 2011

Entre as Tintas e as Palavras



"Eu acho que se se é surrealista, não é porque se pinta uma ave, ou um porco de pernas para o ar. É-se surrealista porque se é surrealista!"

Mário Cesariny

terça-feira, maio 03, 2011

11/7


(120 cm x 100 cm)

Como um peregrino vacilante ou como um insecto ziguezagueante, sem percurso lógico, liberto sobre a tela o pincel que, impregnado de tintas aveludadíssimas, me conduz à criação da maçã. Não dou ao momento calmaria. Mando flutuar as cadeiras, penso nos elementos, paradigmas estéticos, que me rodeiam e que me levam ao xadrez. Todos dias por lá caminho. A rainha que me viu crescer, estende as suas raízes e ergue os seus braços à mitologia existencialista de slogans sagrados. Do rasgão, o Futuro espia o Presente…

segunda-feira, abril 04, 2011

Adão e Eva

(80cm x 60 cm)

A noite está a chegar tingida de um amarelo enigmático... O rosto lânguido de Adão é uma montanha que recebe todo o calor da planície curvilínea de Eva. A mesa do xadrez está posta. A Ampulheta, em queda, cronometra o tempo adormecido. Neste jardim, pleno de profanação de profecias, uma árvore estica o braço, oferecendo a Maçã. Alheio às dádivas do Éden, o barco dos sonhos continua a navegar na senda das estrelas...

domingo, março 13, 2011

Surrealidade

(80cm x 60 cm)

Ouço um rasgo no céu que ecoa no meu pensamento. "Quem está aí?", indago. Uma força empurra-me para fora de mim. De quem é este corpo que tenta libertar-se do caixilho onde o tentaram emoldurar? Sou eu? Belisco-me, sinto-me.
Avisto as linhas do xadrez que me indicam o caminho. O meu braço, longo e distendido, uma extensão de mim, tenta em esforço alcançar a maçã. Eu sei que ela será minha. Ela também o sabe. “Deixa-me surrealizar o sonho”, peço-lhe. “Surrealiza-me”, responde-me.


segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Aeternum

(80cm x 60 cm)

No imo do desassossego, tive um sonho.
Sonhei.
Sonhei que existe outro xadrez para além das nuvens,
para onde o relógio, carregando o tempo que falta, se mudou.
Sonhei.
Sonhei que estava nas escadas rolantes que se movem,
para cima,
para cima,
para cima,
céleres.
Sonhei.
Sonhei que ouvia anjos que cantavam um hino.
Sonhei.
Sonhei que tinha acordado.
Sonhei que era de novo criança.
Sonhei que me baloiçava para lá das nuvens.
Sonhei.
Sonhei que a vida é um sonho.
A realidade é o que está para além das nuvens.

domingo, fevereiro 13, 2011

À La Carte


(80 cm x 60 cm)

Condenada à morte! Ah, vil sentença pronunciada numa sala sombria! Desde então convivo com esse pensamento, paralisada pela sua presença, arqueada sob seu peso! Um calafrio percorreu a minha pele. Será agora? No céu batiam as últimas horas do dia.
Coragem diante da morte, dizem-me. Perguntemos-lhe o que ela é. Saibamos o que ela quer connosco, esmiucemo-la por todos os lados, perscrutemos o enigma e olhemo-la de frente.
De cima do palanque, exibem-me a uma multidão rejubilante, que incita e aplaude a condenação. Despem-me do meu pudor. Olho-os a todos de frente, aos que, depois de me terem saboreado, me condenam. Os algozes banqueteiam-se. Assistem de camarote ao espectáculo, empanturrando-se do xadrez da vida.
Mas, eu sei que há um Homem, um sonhador, absorvido em descobrir a essência em prol da arte, para quem a Maçã foi a fantasia que o aprisionou, e por quem ele se deixou aprisionar.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Surrealizar o Sonho



A Noite deixou cair a cortina. O sonho já dorme. Deitado na companhia de uns lençóis repletos de silêncio, as estrelas azuis fixam os seus olhos em mim. Falo com o Mundo, mas só ouço o bater do Mar no casco do meu Barco como um sussurro hipnotizante das Maçãs. Surrealiza-me o Sonho...

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Surrealizar o sonho

domingo, janeiro 16, 2011

Epílogo

(80 cm x 60 cm)

Ao bater da hora do silêncio, o jardim de cores de uma paleta chega, finalmente, ao seu epílogo.

Reclama por um pedaço de céu azul, tendo como testemunha um deslumbrante raio de sol. Em harmonia com as páginas do calendário de uma maçã sai triunfalmente de cena. Na sua magistral despedida derrama uns salpicos de tinta, em ebulição.

Junto ao xadrez, o espelho de água, indiferente, continua o seu compasso de dança.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Estocada

(55cm x 65 cm)

Em plena arena, uma luz cita e abeira-se dos meus pensamentos cravando-lhes uns ferros curtos. A maçã, aturdida, atreve-se a fazer uma pega de caras. O touro encampana-se, levanta a cabeça e desafia a maçã. Atraído pelo fruto despedaça a capa de linho celeste dando-lhe uma estocada. Ferida de morte na lide, a maçã esvai-se em seiva que alimenta os meus pincéis.