quinta-feira, dezembro 13, 2012

14 de Janeiro

(80cm x 60cm)

14 de Janeiro todo o santo dia bateram à porta. não abri, não me apetece ver pessoas, ninguém. escrevi muito, de tarde e pela noite dentro.
curiosamente, hoje, ouve-se o mar como se estivesse dentro de casa. o vento deve estar de feição. a ressonância das vagas contra os rochedos sobressalta-me. DESCONFIO QUE SE DISSER MAR EM VOZ ALTA, O MAR ENTRA PELA JANELA. sou um homem privilegiado, ouço o mar ao entardecer. que mais posso desejar? e no entanto, não estou alegre nem apaixonado. nem me parece que esteja feliz. escrevo com um único fim: salvar o dia.

( Al Berto )

sexta-feira, novembro 23, 2012

47 Degraus

70cm x50cm

Sob proteção paterna, inicio o meu percurso de vida como uma criança frágil e cândida, porém com o semblante de um fantasma birrento. O mesmo chão que consente o pranto dos petizes, presenteia o cavalo para as suas cavalgadas terrenas. O tempo passa... a escada da aprendizagem vai sendo montada. Subo, penosamente, degrau a degrau, procurando alcançar as maçãs que esvoaçam ao meu lado.

sábado, novembro 03, 2012

Estendal do Tempo

(70cm X 50cm)

Chegou o outono. As andorinhas já abalaram. Uma tristeza colou-se nesta página do tempo, já desgastada pela celeridade dos dias.
Estou preso neste estendal que desaproveitou a sombra. Sinto-me só. Um pesar percorre a minha essência oca que se liquefaz. Escuto o murmúrio húmido do mar. Todavia, a ténue luminosidade adocicada da recordação ainda acalenta as molas que me seguram neste lugar…

quinta-feira, outubro 25, 2012

Entre o Mar e o Sonho

( 90cm x 70cm )

Nesta vida terrena, repleta de calhaus, acondiciono, no lado esquerdo da memória, o pergaminho dos meus primeiros traços executados por um lápis debutante. Prezo o jorrar das águas do obscuro. E nos segundos em que esqueço que sou efémero, um tubo de tinta solta os pigmentos que aquecem o meu corpo. Abro fendas nos sonhos e envio os pincéis ao encontro das maçãs voadoras. E neste silêncio de cores prostradas na tela, revelo ao Mar toda a espuma que me veda os olhos….

sábado, outubro 13, 2012

O FAUNO

( 50cm x 40cm )


Avançaram, para a minha paleta, as palavras de Aquilino Ribeiro. Misturei-as e apliquei-as na tela criando uma história.
O Fauno dança na minha imaginação. O eterno amante das maçãs voadoras, deambula, errante pela vida, conquistando as ninfas. Flautista singular, toca-lhes uma melodia lasciva, que as faz vibrar de excitação. Persegue-as sem temor, sedento de as tatear. Prossegue o seu destino...
E a próxima página espreita o presente.

terça-feira, outubro 09, 2012

Baile das Maçãs Voadoras



                         ( 90cm x 70cm )

Hoje, o Mar que corre nas minhas veias está à bolina do surreal. Parei o tempo. Os pássaros repousam nas árvores. O aquário não tem peixes.
As crianças arrumaram os jogos.
Encostei os pincéis e deixei meu corpo deslizar pela paleta de cores. Fiquei imóvel.
A janela do sonho invadiu o silêncio. Petrificado, assisto ao baile das maçãs voadoras. O alfinete detém as cortinas do palco da utopia de um golpe atro...
As nuvens, na sua andança, resgatam a minha realidade.

sexta-feira, setembro 21, 2012

Virar as Costas ao Tempo

( 90cm X 70cm )

As raízes amparam o templo do destino.
Abro a janela e avisto um céu translúcido que me fulmina a mente. Sinto um mar de luas cintilantes que pupilam dentro do meu corpo. No meu coração flutuam barcos que fervilham de ideias. A imagem dos teus lábios soldados aos meus continua viva dentro de mim.
O tapete do xadrez da vida estende-se à tua passagem conduzindo o teu caminho. Transpões a cortina, virando as costas ao relógio.





sábado, setembro 08, 2012

Cupido


                                                                ( 50cm X 50cm )
Caminhando numa paisagem lunática, de areal amargo, ouvindo os gritos das nuvens soltados pelas chaminés do céu, calculei os meus passos matematicamente. As mãos estremeciam de medo, o peito doía-me…
Abri a janela de Marte, levantei a cabeça e deixei que a voz das minhas letras fosse ao encontro das tuas. Golpeei a minha essência exterior com um punhal de cupido. Tu entraste na minha vida e preencheste este meu vazio…

terça-feira, junho 05, 2012

Auto-Retrato II

( 90cm x 60cm )

Esta vida terrena asfixia-me.
A minha mente transporta-me para outro lugar, para lá da ilha do pensamento, onde a criação se encontra com a liberdade, na ilha do Éden.
Do azul encamisado do céu solta-se um balão de ar quente que contém os pincéis, triviais ferramentas, que delineiam o meu devaneio. Na companhia das nuvens, as maçãs sacodem as suas asas, agitando toda esta loucura. Procuro a perfeição escutando as harmonias dos planetas.
Enquanto minha alma não repousa, vou colorindo as horas em que esqueço que sou Mortal…

sexta-feira, maio 18, 2012

Caçadora de sonhos


80cm x 60cm

A escuridão convida ao repouso no leito da fantasia. Lanças os dados para um sonho.
Por entre o soalho solta-se a melodia de um piano que nos embala o berço. Um azul anestésico desce pela parede deste quarto mágico, que fortalece a essência do desejo. Desprendes-te da moldura que a vida nos fixa, fazes mira a um alvo e disparas.
Com dedos assentes no chão, a mão tenta deitar as suas garras à surrealidade…

terça-feira, abril 24, 2012

A mão galinha

( 80cm x 60cm )

O céu, que adeja sobre o leito, vai dissipando as estrelas, que, por cima das nuvens, envolvem o castelo da princesa. Em estado letárgico, acolho o sonho de um mundo quimérico.

Sinto o manto que me cobre. Acordo. Abro o olhos e examino os contornos da minha vida. O céu soltou as penas. A mão galinha, que conserva a sua crista resplandecente, sorri para as maçãs volantes e enceta um diálogo ininterrupto com o sonho…
Mão Galinha guardiã dos sonhos...


(Dedicado a Maria de Gala)

segunda-feira, abril 16, 2012

|A|garra

( 80 X 60 )


Às minhas veias pergunto o porquê de toda essa agitação que sinto dentro delas. O céu está calmo. Traja de um tecido azul claro, estampado de nuvens que parecem dançar a dança do ventre para o sultão.Mas, impensamental, do imo das entranhas, sai uma mão que, com as suas garras, tenta apanhar a maçã. Fá-lo tão naturalmente, tal como a gaivota joga com o vento quando este sopra no mar.E, no horizonte, estendido sobre a toalha de areia, o xadrez da vida testemunha toda aquela candura, repleto de conselhos e deveres.

terça-feira, março 27, 2012

Exposição Sob a Pele da Maçã



Sob a pele da maçã existem asas que ousam voar...
Sob a pele da maçã há um barco de sonhos...
Sob a pele da maçã há o prazer de degustar o sabor das letras e das cores...
Sob a pele da maçã há um coração que palpita nas suas utopias...
Sob a pele da maçã... o xadrez da vida.

sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Anemómetro


(120cm x 100cm)

A senda pela busca da inspiração incitou-me a zarpar, há alguns anos, por mares navegados por outros, numa rota incerta, traçada por mim. Navegar junto à costa trazia muitas insónias, pelo que me aventurei em alto mar. O meu barco foi fustigado por tempestades algumas vezes, andou à deriva outras, quase naufragava em oceanos de eterna agitação de águas, escarpeladas e agitadas por tufões, correntes e vendavais. Enfrentando um mar em fúria, fui velejando à bolina, traçando a minha carta marítima. Mantive sempre os mastros erguidos, hasteando a minha insígnia. Escuto o murmúrio das pedras que me chamam… Está na hora de atracar. À entrada na barra, muito suave, estendem-me o tapete do xadrez da vida. Esvoaçando sobre o navio, o grasnar apoteótico das maçãs acompanha a minha escala. No cais, atento à direção do vento, vislumbro o anemómetro, que me guia e indica onde aportar.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Estro

(80cm x 60cm)


Surgiste um dia. Apareceste do nada, de início um vulto que aos poucos que foi materializando. Irradias uma luz que faz brotar os pincéis no jardim de areia. Dás à maçã a sombra que ela procura no mar dos sonhos. Soltas o lençol que te encobre, cedendo o lugar ao estro das cores e das formas, que se criam em mim.
“Quem és tu?”, pergunto.
“Ninguém”, murmuras.