domingo, fevereiro 13, 2011

À La Carte


(80 cm x 60 cm)

Condenada à morte! Ah, vil sentença pronunciada numa sala sombria! Desde então convivo com esse pensamento, paralisada pela sua presença, arqueada sob seu peso! Um calafrio percorreu a minha pele. Será agora? No céu batiam as últimas horas do dia.
Coragem diante da morte, dizem-me. Perguntemos-lhe o que ela é. Saibamos o que ela quer connosco, esmiucemo-la por todos os lados, perscrutemos o enigma e olhemo-la de frente.
De cima do palanque, exibem-me a uma multidão rejubilante, que incita e aplaude a condenação. Despem-me do meu pudor. Olho-os a todos de frente, aos que, depois de me terem saboreado, me condenam. Os algozes banqueteiam-se. Assistem de camarote ao espectáculo, empanturrando-se do xadrez da vida.
Mas, eu sei que há um Homem, um sonhador, absorvido em descobrir a essência em prol da arte, para quem a Maçã foi a fantasia que o aprisionou, e por quem ele se deixou aprisionar.

2 comentários:

Adelina Silva disse...

Citando Agostinho da Silva, em "Diário de Alcestes", "É talvez sinal de prisão ao mundo dos fenómenos o terror e a dor ante a chegada da morte ou a serena mas entristecida resignação com que a fizeram os gregos uma doce irmã do sono; para o espírito liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e passageira; não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e pela ideia, não é mais existente, para o que se soube desprender da ilusão, o que lhe fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender que apenas se lhe apresenta em pensamento; e tanto mais alto subiremos quando menos considerarmos a morte como um enigma ou um fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre as formas."

Poderia divagar sobre o xadrez, a forca, os talheres e tudo o resto. Mas sabes... não me apetece!

Ilda Teixeira disse...

Ficar prisioneiro da Arte, na sua essência é o SONHO sonhado para quem a pega de frente...para quem a respira e mesmo assim não se sente saciado! O paladar, o cheiro, a pele macia ou enrugada, a cor, são pequenos "nada" que a MAÇÃ se encarrega de deixar, num rasto de deleite sobre o tabuleiro da vida! O banquete está servido e virão os dias em que a fantasia aprisiona os sentidos e os algozes quererrão descobrir a essência dessa fantasia que aprisiona, mas tão LIBERTADORA! A essência da Maçã que o ARTISTA não se cansa de explorar e partilhar com quem a vê e sente...