domingo, janeiro 16, 2011

Epílogo

(80 cm x 60 cm)

Ao bater da hora do silêncio, o jardim de cores de uma paleta chega, finalmente, ao seu epílogo.

Reclama por um pedaço de céu azul, tendo como testemunha um deslumbrante raio de sol. Em harmonia com as páginas do calendário de uma maçã sai triunfalmente de cena. Na sua magistral despedida derrama uns salpicos de tinta, em ebulição.

Junto ao xadrez, o espelho de água, indiferente, continua o seu compasso de dança.

2 comentários:

Ilda Teixeira disse...

A paleta pensa que chegou o fim! Não... Ela é o suporte do Artista e os salpicos em ebulição, que caem sobre a Maçã, misturam-se com a SEIVA e o calor do raio de sol. No silêncio da hora o jardim floresce e retorna ao seu lugar! Pela manhã o Artista encontra-A pronta e serena, como que reflectida no espelho de água que ainda dança a seus pés. Até o tabuleiro abriu os braços para deixar passar os peões! Ou será que são os piões, para poder "jogar"? Que venham uns e outros...O Artista está atento e espera os seus sinais!

Adelina Silva disse...

“Ele era triste e alto. Jamais falava comigo que não desse a entender que seu maior defeito consistia na sua tendência para a destruição. E por isso, dizia, alisando os cabelos negros como quem alisa o pêlo macio e quente de um gatinho, por isso é que sua vida se resumia num monte de cacos: uns brilhantes, outros baços, uns alegres, outros como um “pedaço de hora perdida”, sem significação, uns vermelhos e completos, outros brancos, mas já espedaçados.

Eu, na verdade, não sabia o que retrucar e lamentava não ter um gesto de reserva, como o seu de alisar o cabelo, para sair da confusão. No entanto, para quem leu um pouco e pensou bastante nas noites de insônia, é relativamente fácil dizer qualquer coisa que pareça profunda. Eu lhe respondia que mesmo destruindo ele construía: pelos menos esse monte de cacos para onde olhar e de que falar. Perfeitamente absurdo. Ele, sem dúvida, também o achava, porque não respondia. Ficava muito triste, a olhar para o chão e a alisar seu gatinho morno.”

Clarice Lispector