sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Anemómetro


(120cm x 100cm)

A senda pela busca da inspiração incitou-me a zarpar, há alguns anos, por mares navegados por outros, numa rota incerta, traçada por mim. Navegar junto à costa trazia muitas insónias, pelo que me aventurei em alto mar. O meu barco foi fustigado por tempestades algumas vezes, andou à deriva outras, quase naufragava em oceanos de eterna agitação de águas, escarpeladas e agitadas por tufões, correntes e vendavais. Enfrentando um mar em fúria, fui velejando à bolina, traçando a minha carta marítima. Mantive sempre os mastros erguidos, hasteando a minha insígnia. Escuto o murmúrio das pedras que me chamam… Está na hora de atracar. À entrada na barra, muito suave, estendem-me o tapete do xadrez da vida. Esvoaçando sobre o navio, o grasnar apoteótico das maçãs acompanha a minha escala. No cais, atento à direção do vento, vislumbro o anemómetro, que me guia e indica onde aportar.

3 comentários:

Adelina Silva disse...

Caro Artista AMac,


Podias ter sido um barco
a navegar no mesmo ritmo das ondas,
mas não. Quiseste ser vento contrário...
(…)
Logo chegará o dia
em que o teu espaço será o meu espaço
e o teu tempo será o meu tempo
(…)
E será pelo olhar que nos reconheceremos...
(…)
ter-te-ei além
onde os barcos navegam sem vento...
(…)

Maria José Quintela


Continua essa tua saga pela produção artística de alta qualidade, continua a tua perseverança na senda da inspiração, inala o aroma da maçã, e segue em frente... tentando evitar os obstáculos, os lobos maus, e as rainhas más...
Abraço de reconhecimento pelo trabalho!!

Beatriz teixeira disse...

A inspiraçao leva-te a grandes voos!
Aindabem que encontras-te outros mares perdidos... a felecidade poderá estar poi ai... :)

Ja nao vinha aqui algum tempo e continuas a ser o grande Arnaldo Macedo que conheci noutros tempos ... a amizade qdo verdadeira nao desaparece nunca : PARABENS e que a modelo te inspire em mais trabalhos ainda :)

Beijinhos Bea

Adelina Silva disse...

"Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou váriamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpétuamente me ponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço. " Fernando Pessoa

E mais não digo... Para bom entendedor, meia palavra basta.