segunda-feira, janeiro 09, 2012

Estro

(80cm x 60cm)


Surgiste um dia. Apareceste do nada, de início um vulto que aos poucos que foi materializando. Irradias uma luz que faz brotar os pincéis no jardim de areia. Dás à maçã a sombra que ela procura no mar dos sonhos. Soltas o lençol que te encobre, cedendo o lugar ao estro das cores e das formas, que se criam em mim.
“Quem és tu?”, pergunto.
“Ninguém”, murmuras.

1 comentários:

Adelina Silva disse...

Caríssimo AMac,

Acordei com um poema de Álvaro de Campos na mente que gostava de partilhar contigo:

"Os antigos invocavam as Musas.
Nós invocamo-nos a nós mesmos.
Não sei se as Musas apareciam —
Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação. —
Mas sei que nós não aparecemos.
Quantas vezes me tenho debruçado
Sobre o poço que me suponho
E balido "Ah!" para ouvir um eco,
E não tenho ouvido mais que o visto —
O vago alvor escuro com que a água resplandece
Lá na inutilidade do fundo...
Nenhum eco para mim...
Só vagamente uma cara,
Que deve ser a minha, por não poder ser de outro.
E uma coisa quase invisível,
Exceto como luminosamente vejo
Lá no fundo...
No silêncio e na luz falsa do fundo...

Que Musa!..."


Continuação de grandes inspirações!